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Filosofia do Design, parte XLVII – Ocioso Design

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* texto originalmente publicado no Design Simples.

Cada vez mais tenho a impressão de que a ideia de inteligência coletiva de Pierre Lévy é um equívoco demasiado ingênuo. Quanto mais as pessoas têm voz, menos elas têm o que dizer. De dia, gritamos contra o mundo; de noite, celebramos este mesmo mundo – sob o paradoxo de que não escapamos de uma visão de mundo particular que, por sua vez, também pertence ao mundo. Conheço muitos jovens designers extremamente talentosos, virtuosos em técnica e pensamento, mas que se sentem vazios, desprovidos de sentido, com o vício da ociosidade (procrastinação). E eu me incluo entre eles.

Daí o pessoal mais velho (que eu chamo, carinhosamente, de cabeçudos) nos enche de críticas e conselhos datados, pra não dizer falidos, contra uma geração perdida, passivamente programada, sem identidade e sem opinião. Tanto os novos radicais (os conservadores de ontem) quanto os novos conservadores (antigos reacionários) nos relegam ao ostracismo ignóbil, sendo a nossa resposta uma indiferença silenciosa e, contudo, voluntária.

by Gottfried Helnwein

Afinal, a velocidade de hoje é resultado de uma busca otimista e dramática, nos últimos séculos, pelo máximo de produtividade e progresso. Esta velocidade logo se tornou o cenário perfeito àquilo que o sociólogo Michel Maffesoli (2003) designa por sensibilidade trágica: um elogio ao instante eterno, que imobiliza o tempo através do afeto compartilhado, ou seja, as aparências acima de uma identidade individual. Trata-se de uma atração apaixonada pelo grupo, combustível de um cotidiano lúdico onde nossa existência não passa de uma sucessão de instantes: marchas/causas/redes sociais, gay parades, flash mobs, facebook, etc.

Neste contexto, há um sentimento trágico, vazio e silenciosamente ensurdecedor que nos assombra. São incontáveis os designers que, após se formarem ou mesmo durante a graduação, não encontram perspectiva profissional e entram em crises existenciais profundas. Quando isso acontece comigo, eu releio o livro “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera (1985). Trata-se de um romance que parte da seguinte questão: as coisas acontecem só uma vez ou são uma interminável repetição?

Então a ideia nietzschiana de eterno retorno é, em nós, empiricamente refletida. Aquilo que sempre foi absurdamente impensável retorna ao pensamento de modo sempre igual e, ao mesmo tempo, diferente. Acho que já li este livro umas cinco vezes e, a cada leitura, parece que os personagens não são os mesmos da última vez – eles mudam conforme eu, leitor, deixo de ser quem eu era antes. Com a nostalgia da repetição, no entanto, sentimentos do passado se alinham violentamente com os do presente. E minha juventude renasce.

by Jeremy Geddes

“…assim como a figura do homem adulto e realizado, dono de si e da natureza, dominou a modernidade, não veríamos ressurgir, nesta pós-modernidade nascente, o mito do puer aeternus, essa criança eterna, brincalhona e travessa, que impregnaria modos de ser e pensar?” (MAFFESOLI, 2003, p. 12). O vídeo We all want to be young ilustra este novo imperativo categórico do “ser jovem”, um espírito hedonista e efêmero que vivenciamos todos os dias junto à sombra trágica de um tempo cíclico e ocioso. Aliás, qual é o estereótipo do designer senão aquele do jovem criativo e descolado que está por dentro de tudo o que há de novo?

Esta novidade é o fardo que carregamos. Ela não nos pertence e não é encontrada no mercado ou na academia. Ela está por toda parte, exigindo a nossa atenção nas redes sociais, nas manifestações culturais, em nossos relacionamentos, dificuldades cotidianas – na vida que se mostra repetidamente dura e bela, sempre jovem e imprevisível. “Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?” (KUNDERA, 1985, p. 11). Maffesoli (2003, p. 14) responde: “a verdadeira vida não tem projeto porque não tem objetivo definido”.

Portanto, não podemos projetar a novidade (que é a vida) seguindo métodos e conceitos pré-definidos. A novidade está na repetição de nossos erros, na vida que se esgota diariamente rumo à morte (que se alimenta de vida). Eis o eterno retorno que paradoxalmente renasce com aquilo que já foi e que, de repente, é novamente novo. E cabe a nós, designers, saber encontrar a novidade no pulsar de sua própria repetição, na indiferença efêmera de nossa geração perdida, em nossa juventude que se basta em si mesma.

[vimeo 16641689]

We All Want to Be Young (2010) – by Lena Maciel, Lucas Liedke & Rony Rodrigues

Referências Utilizadas:

- KUNDERA, M. A Insustentável leveza do ser. Trad. Tereza B. Carvalho da Fonseca. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

- MAFFESOLI, M. O Instante Eterno: o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. Trad. Rogério de Almeida e Alexandre Dias. São Paulo: Zouk, 2003.


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